O bezerro com cabeça humana (Herculano)

O bezerro com cabeça humana

Herculano Vicenzi

 

Na década de 1980, nasceu em Guramirim um bezerro com a cabeça deformada. Dois caiporas já mamados de canhanha, viram naquela deformação uma cabeça humana. Por isso, embora o animal tivesse morrido logo em seguida, eles o botaram dentro de um carro de passeio e rumaram para Joinville, onde foram bater no pronto-socorro do Hospital São José. Os plantonistas botaram a dupla para correr, dizendo que o lugar de atendimento de quadrúpedes era a Fundação Municipal 25 de Julho, em Pirabeiraba.

Os dois sairam do hospital, e antes de ir para a Fundação 25 de Julho, telefonaram para um programa de rádio – desses que a conversa vai direto ao ar – e anunciaram o nascimento de um bazerro com cabeça humana.  De quebra, completaram o telefonema informando onde iam deixar o bicho.

Muita gente ouviu aquilo, inclusive eu. Prevendo o que ia acontecer, uma hora mais tarde fui até a Fundação 25 de Julho, onde encontrei o vigia muito preocupado.

– Que bom que você chegou, pois não sei o que fazer. Depois que dois homens deixaram aqui um bezerro morto e com a cabeça esquisita,  o telefone toca sem parar. Pelo jeito, vai aparecer muita gente para ver essa coisa, disse o homem.

Sem perda de tempo, fui dar uma olhada no bezerro, que o vigia havia escondido atrás da guarita. Ao ver o aspecto do bicho me convenci que a dupla de Guaramirim  tinha secado um alambique. A cabeça se parecia com a de um cachorro buldogue, nada mais que isso.

Com duas pás, o vigia e eu abrimos uma cova e enterramos o animal. Embora não fizesse parte do quadro de funcionários da Fundação 25 de Julho, tomei a decisão sem consultar ninguém pelo fato que toda a diretoria instituição estava de folga por ser o período entre Natal e Ano Novo.

Mas, voltando à cova, uns 15 minutos depois de terminado o serviço, eis que estacionaram três carros apinhados de curiosos. Informados da realidade do fato, alguns lamentaram, enquanto que um abobalhado ficou brabo, dizendo que tínhamos cometido um crime, ou no mínimo um erro, ao enterrar o bicho sem submetê-lo a uma autópsia. Santa paciência! Mandei o desaforado plantar batatas. Se quisesse ser enganado, que fosse procurar outro lugar. Ato seguinte me depedi do vigia fui para casa.

Quem não teve sossego durante toda a manhã foi justamente o vigia. No dia seguinte ele me contou que perdeu a conta de quantos curiosos estiveram na porteira da Fundação 25 de Julho para ver o tal bezerro com cabeça de homem. Eita mundão entupigaitado de crédulos!

COMPARTILHE: