O “né?” Catarina (Hilton Görresen)

 

O “NÉ?” CATARINA

Hilton Görresen

 

Uma das características mais notadas no catarinense é o uso da expressão “né?” no final de quase toda frase.

Observe quando um grupo de reportagem pega um transeunte desprevenido e o entrevista. As respostas sempre vêm com uma saraivada de “nés”. Pessoas de outros estados sempre acham que estamos a lhe perguntar. Engano: o catarinense afirma perguntando. Nosso né equivale ao gaúcho “tchê!” ou ao mineiro “sô!”. É também um dos componentes de um time bastante familiar, como “tá?”, “ok?”, “percebe?”, “entendeu?”, e outros.
O “né?” vai saindo de forma tão sorrateira que você passa a usá-lo sem perceber. Alguns ficam surpresos ao verificarem numa gravação que em dois minutos usaram mais de uma dezena de “né?”.

Seria isso uma espécie de muleta verbal? Uma questão de baixa autoestima? Insegurança ao afirmar? Por que não somos assertivos como os paulistas ou paranaenses?

Não sou linguista, sociólogo ou psicólogo, mas posso também tirar algumas conclusões complicadas a respeito do assunto, com base nada científica, apenas de oitiva, o que, em linguagem vulgar, significa de ouvido, de “oreia”.

Existem vários tipos de né. Um deles o né terminativo, uma espécie de eufonia para não deixar a frase terminar secamente: Nessa hora senti que estava errado, né! Existe o né interativo, uma estratégia para envolver o nosso interlocutor na conversa: que frio, né? É uma afirmação que exige volta, uma resposta do outro. Às vezes, o né reveste-se de recriminação: Você não me ouviu, né?! Agora se vire! Outras vezes, vira uma resposta sarcástica: Quem estragou o aparelho? Só pode ser o fulano, né? Ou o né serve como uma imposição: Você não vai faltar á aula, né? Nesse caso, quem fala não tem objetivo de perguntar e sim de ordenar, prevendo uma resposta. No caso, trata-se de uma imposição com açúcar.

Nossa característica tem eco numa língua de prestígio, o inglês. Observe a frase: “You like cine, isen’t? Tradução: Você gosta de cinema, né? Alguém já fez pesquisa para saber quantas vezes numa conversa os americanos utilizam essa expressão?

Já que é difícil para a classe dos “nézistas”, entre os quais me incluo, policiar-se a fim de diminuir a quantidade de nés por minuto, temos que valorizar nossa expressão mais conhecida, né?

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