O olhar da professora (Milton Maciel)

 

O OLHAR DA PROFESSORA

Milton Maciel

 

Tristonho e angustiado, o olhar da professora
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Das contas sobre a cama, abertas como um leque.
Ao lado, para honrá-las, o bisonho contracheque!
.
As pilhas a subir:
São roupas pra passar,
São louças pra lavar,
Provas pra corrigir!
E filhos a exigir,
Marido a reclamar,
Ninguém para ajudar,
Quem pode resistir?!
.
Alunos revoltosos, preguiçosos, barulhentos,
E, de uns anos para cá, cada vez mais violentos.
A sala de aula pobre, desprovida, abandonada,
E com risco de ser, mais uma vez, interditada.
.
Tristonho e angustiado, o olhar da professora,
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Da escola que se afunda, em decadência lenta,
Nas mãos da gestão pública, inepta e/ou fraudulenta.
E pensa no absurdo, o paradoxo tão profundo:
Economia: Nona. Educação básica: Terceiro… Mundo!
.
O que fazer, então,
Se essa é sua profissão?
Se pra ganhar a vida
Foi essa a escolhida
Por sua vocação?
E se somente ela,
Em que pese a mazela,
Lhe fala ao coração?
.
Então, mais uma vez, o olhar da professora,
Procura ver além da imagem assustadora.
.
Tem a vida pra levar,
Tem filhos pra criar,
Não pode desistir,
Forçoso é resistir.
Tem que continuar:
Tantos a precisar
Da sua resistência,
Da sua eficiência
Da sua devoção,
Da sua imolação!
.
E, cheio de esperança, o olhar da professora,
Mais uma vez contempla a visão alentadora:
Um futuro diferente, em que outras criaturas
Poderão levar em frente jornadas menos duras:
.
Os novos professores, de uma nova geração
De crianças, tendo enfim, no Brasil uma Nação.
E ela compreende que não sonha, apenas, tal futuro,
Mas que o constrói, a cada dia, com seu trabalho duro.
.
E que, para educar, ela não mede sacrifício,
Pois essa é a dor e a glória do seu Sagrado Ofício.

(Miami, outubro 2014)

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