Olhar passarinho – Árvores de lembranças (Cristina)

Olhar Passarinho – Árvores de lembranças

Por Maria Cristina Dias

Tempos de Advento, tempos de olhar para dentro de si, de reflexões. Hora de montar a árvore, de arrumar a casa, de preparar os presentes de quem amamos – e também de tirar a poeira dos cantinhos da alma e abrir espaço para o novo que – espera-se, deseja-se – chegará com o novo ano.

Árvores de Natal deveriam se chamar “árvores de lembranças”. Ou, quem sabe, “árvores de memórias”. Elas são quase um portal que nos remete a histórias passadas, a dias da infância (a nossa, a dos filhos), a pessoas queridas, a doces e aromas que só vemos nessa época do ano.

Elas nos levam de volta para aqueles momentos em que, meninos, olhávamos com fascínio e empolgação para as luzes coloridas e a única preocupação na vida era o que Papai Noel (sim, acreditávamos) nos traria na madrugada do dia 25 de dezembro. Uma ansiedade, é verdade, mas bem diferente da dos adultos.

O futuro era ao mesmo tempo tão distante e tão próximo. Nada de olhar lá para a frente e esquentar a cabeça com o que nem sabíamos se viria a existir. Perder o sono, só se fosse para tentar flagrar o Papai Noel e acabar com o grande mistério do Natal: quem coloca os presentes debaixo da árvore. Ou, ainda, como ele entra na minha casa, toda trancada, sem a chaminé que vemos nas histórias que povoam a nossa imaginação.

Árvores de saudades repletas de bolinhas de vidro fino que quebravam só de olhar, desmanchando-se pelo chão em minúsculos caquinhos que iam parar nos pés descalços dos incautos. Pareciam pequenos espelhos que refletiam olhos curiosos e distorciam as imagens. O nariz aqui na frente… as orelhas lá pra atrás… e o riso solto para compor a trilha sonora do advento.

Árvores de shopping são lindas com seus laços bem feitos, enfeites novinhos colocados simetricamente e luzinhas que nunca queimam. Mais lindas ainda, porém, são aquelas da sala de casa, com enfeites que se repetem ano após ano e cheios de significados.

Aqueles anjinhos de pérolas saíram de mãos amigas que já não estão mais entre nós. Os enfeites em madeira são lembranças de viagens para longe, muito longe, de Natais com neve e frio, cantando as músicas infantis do ursinho Pooh. As botinhas são bordadas em ponto cruz e meio puídas, desgastadas pelo tempo… elas têm nomes para identificar os moradores da casa e ajudar o Papai Noel na sua lida anual. Vai que o bom velhinho, de idade avançada e óculos de grau, se confunde e troca os tão esperados presentes.

Para uns, com o pinheirinho de casa vem o cheiro das rabanadas sendo fritas e envoltas em açúcar com canela na véspera do Natal. Para outros, vem a lembrança dos biscoitos de melado com cobertura de glacê e decorados com açúcar colorido. Nada de desenhos sofisticados. Os de vó, os legítimos, que ficam na memória, são mesmo aqueles simples, com glacê branco feito em casa e massa muitas vezes trabalhada por mãozinhas entusiasmadas. E há quem ainda lembre das balas jogadas pela janela por um ser misterioso que talvez até fosse o Papai Noel, o legítimo.

Armado em um canto da sala ou em um local mais nobre, essas árvores mágicas trazem a lembrança das músicas natalinas – as mesmas de sempre, claro, que todo mundo sabe de cor e nem precisa improvisar a letra. Lembram risadas, bebê chorando e passando de colo em colo, primos correndo pela sala ou se escondendo para contar baixinho as novidades, família reunida, conversa jogada fora… e até aquele parente chato que todo mundo tem, mas que um dia vai fazer falta na mesa de jantar.

Árvores de Natal, árvores de saudades, que guardam em seus ramos muitas vezes artificiais um pouco das histórias de cada um de nós.

 

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