Por que matei Rocky Lane (Hilton)
POR QUE MATEI ROCKY LANE?
Hilton Gorresen
Esse é o título de meu (penúltimo) livro de contos. O personagem do conto que empresta seu nome à obra é um escritor de livros de faroeste que ajusta contas com seu herói da infância. Rocky Lane foi um astro dos filmes de faroeste e dos gibis que empolgavam os jovens até as décadas de 50 e 60.
Esses mocinhos não eram lá grandes atores. A maioria deles era constituída por atletas e peões de shows e rodeios. Alguns, como Gene Autry e Roy Rogers, eram cantores de música “country”. Outros iniciaram como dublês, pulando de grandes alturas em cima de cavalos ou se jogando debaixo de diligências em movimento. Seus filmes apresentavam ação intensa, tiroteios e perseguições; não era necessário abrirem a boca. No final, triunfavam o bem e a justiça, ladrões e corruptos acabavam atrás das grandes (mas não demorava tanto quanto hoje).
Na época da Segunda Guerra Mundial, houve uma revoada de super-heróis nas histórias em quadrinhos. Superman, Batman, Capitão América, Mulher Maravilha e muitos outros lutavam sem tréguas contra os inimigos do Eixo. Era simbolicamente um estímulo aos jovens para se engajarem na luta. Terminada a guerra, houve uma saturação das aventuras desses heróis. E não havia mais inimigos a combater.
Foi então que os caubóis do Oeste migraram para os gibis. A cada edição apareciam novos “mocinhos” vindos das telas do cinema. Na verdade, apenas mudavam de nome, de vestimenta e de cavalo (quase todos tinham em comum a indumentária longe do padrão dos verdadeiros caubóis, e um cavalo que só faltava falar), as aventuras eram as mesmas.
Histórias de faroeste não eram novidade. Foi o mito do Oeste Selvagem que alavancou, em seu início, o cinema americano. O primeiro “longa”, O Grande Roubo de Trem (que você pode assistir no youtube), foi exibido em 1903, com cenas que se repetiram em inúmeros outros filmes. O primeiro “mocinho”reconhecido pelo público foi Bronco Billy, astro de rodeio, na época do cinema mudo. Após ele, e nos seus passos, veio Tom Mix, que alcançou grande sucesso. Quando deixou de rodar seus filmes, montou um circo para percorrer o país. Intrépido cavaleiro, morreu num acidente de carro. A primeira filmagem com som externo foi o western “No velho Arizona”.
Rocky Lane era meu herói preferido. Nos gibis, sua característica era a camisa com listras verticais e o chapéu branco. Depois de sua decadência como “mocinho” ganhou a vida emprestando a voz a Mr. Ed, cavalo falante de uma série de TV. Triste fim para um caubói durão.
TEXTO PUBLICADO NO JORNAL A GAZETA DE SBS EM 20.11.2021