Precisão da linguagem

Levei um susto quando o computador, recém-chegado à minha mesa, respondeu à solicitação de impressão com a mensagem:

– Sua impressora precisa de atenção

Ué, pensava que atenção era algo que se dava à família e aos amigos; até poderia chamar assim o cuidado com animais e as plantas. Mas para uma impressora era demais.

Pois o estranhamento se aprofundou quando assisti ao filme “O Doador de Memórias” – ficção que cria um mundo igualitário, sem emoções e totalmente controlado, incluindo um código em relação ao uso das palavras.

O protagonista (um jovem que se preparava para receber memórias do passado) questiona o pai:

– Você me ama?
– Precisão de Linguagem! – adverte o pai.
– Tenho muita consideração por você.

Se dermos uma olhada nas notícias que nos cercam, já vivemos em um ambiente que nos cobra pelo uso de termos neutros, que não expressem julgamentos ou distinções. As palavras ferem, discriminam, indicam preferências e necessitam de controle. Precisão de Linguagem (PL) nelas.

– Você está atrasado.

– PL: além do prazo estipulado.
– Não suporto mariscos.
– PL: tenho intolerância a alimentos de origem marinha.
– Estou farta.
– PL: satisfeita.
– Fulana engordou.
– PL: adquiriu sobrepeso.
– Beltrano é ignorante.
– PL: tem informação insuficiente.

Voltando ao filme. Diante da insatisfação de alguns com a mesmice de uma sociedade controlada, a anciã que detinha autoridade máxima, conhecedora das agruras do passado que motivaram as regulações do presente, justifica:

– Quando tinham liberdade, vocês fizeram escolhas erradas; todas as vezes.

– Pois é (eu diria). Mas desta forma a vida se torna um saco!

– PL: carente de atrativos.

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