Wilson Gelbcke – Discurso de posse

Ser convidado a participar da Academia Joinvilense de Letras e ocupar uma das cadeiras vagas foi como uma benção, ao saber que uma delas havia sido do querido amigo Monsenhor Sebastião Scarzello.

Pelas gratas lembranças do “bom velhinho”, como ele era carinhosamente chamado pelos joinvilenses, ao apresentar meu currículo e o pedido de inscrição, eu tive a honra de escolher a cadeira do Monsenhor e sentir como se ele estivesse ao meu lado.

No final da Grande Guerra Mundial, em 1946, deixei Florianópolis com 13 anos de idade e vim para Joinville. Aqui, frequentando a velha Catedral, meus pais fizeram logo boa amizade com aquele vigoroso e sempre jovial sacerdote, já passando dos sessenta. E eu soube que ele tinha vindo para Joinville em 1933, ano em que eu nasci.

Terminei meus estudos, fiz um curso de desenho artístico/comercial por correspondência e fui para Curitiba, no início de 1952, disposto a enveredar pelo mundo da comunicação. Lá, conheci e casei com minha musa inspiradora, Alverita Loures, voltando à Joinville dez anos depois para gerenciar a área de propaganda da Consul S.A., onde portas foram se abrindo para a literatura.

E o que aconteceu… Novos e belos momentos com Monsenhor Sebastião, ainda jovem aos 82 anos. Idade que eu tenho hoje.

Entre parentes e amigos, formamos um grupo que costumava convidar o Monsenhor para jantar à moda italiana. E ele fazia questão de trazer vinhos de primeira qualidade que recebia de amigos, além de um excelente conhaque de fabricação própria.

Eram belos momentos em que o Monsenhor aproveitava para contar empolgantes fases de sua vida: Sua juventude em Turim, Itália, onde ele nasceu … Seu início como missionário no Quênia, África, junto às tribos dos bantos… Campeão de ciclismo, hipismo e até esgrima… Cantor de óperas como Lucia di Lammemoor …

E sempre haveremos de lembrar quando ele completou 70 anos de sacerdócio em abril de 1973, aos 93 anos de idade. No mês seguinte com o grupo de amigos, levamos o Monsenhor a Curitiba para uma merecida festa no Restaurante Madalosso. E ele foi presenteado com uma bela camisa alaranjada, que logo vestiu para alegria de todos e até da cantora Eliana Pittmann que estava também lá, aproximando-se do grupo.

No ano seguinte, em 28 de junho de 1974, Deus o chamou para o Seu Reino. Sempre ao lado dele estava o amigo Padre Juca, até os últimos momentos ao lhe administrar os Santos Óleos para sua partida ao encontro definitivo com o Pai.

E o Padre Juca, hoje Monsenhor José Chafi Francisco, escreveu a importante biografia de Monsenhor Sebastião Scarzello, em 1993.

 

Léonce Aubé     – Patrono do novo acadêmico Wilson Gelbcke

Como novo acadêmico, meu patrono é Louis François Léonce Aubé, engenheiro francês, diretor da Colônia Dona Francisca, atual cidade de Joinville.

Em 1837, o Príncipe de Joinville, François Ferdinand de Orleans, veio para o Brasil e na Corte Imperial conheceu a Princesa Francisca Carolina de Bragança, filha de Dom Pedro I, e se encantou com ela.

Interessado na princesa brasileira, o príncipe francês veio ainda duas vezes ao Brasil, em 1840 e 1843, disposto a casar. O dote da princesa foi 25 léguas quadradas de terras devolutas na Província de Santa Catarina.

François Ferdinand casou com a princesa Francisca e fixaram residência na Europa.  E designou Léonce Aubé para tomar posse das terras no norte catarinense.

Na Europa nasceram os filhos, princesa Francisca em 1844 e príncipe Pierre em 1845.

Devido a dificuldades financeiras, litígios e pequena Revolução Francesa em 1848, resolveram vender as terras dotais em Hamburgo, para a empresa de colonização do alemão Christian Mathias Schroeder, que fez história como principal membro e acionista da Sociedade de Proteção aos imigrantes do Sul do Brasil.

Com a queda do rei francês, o Príncipe de Joinville acompanhou o pai para o exílio na Inglaterra. E encarregou seu procurador Léonce Aubé de concluir e acompanhar a fundação da Colônia, o que Léonce Aubé fez com todo o carinho e esforço, agora como vice-cônsul da França em Santa Catarina, a partir de 1849.

Naquele ano, Léonce Aubé esteve em Hamburgo, levando consigo projeto do contrato que estabelecia pormenores da concessão de terras para a futura colonização em proveito recíproco.

Em 9 de março de 1851, o vice-cônsul da França, Léonce Aubé, acompanhado de duas famílias de trabalhadores braçais e de um engenheiro para fazer as demarcações do que viria a ser a nova Colônia, chegaram ao local e fundaram a então Colônia Dona Francisca, que mais tarde, em 1852, ao chegar uma nova barca com mais de 118 pessoas, decidem, em homenagem ao príncipe François Ferdinand, chamar a cidade de Joinville.

A figura ímpar de Léonce Aubé se destacou, também, como um desbravador da geografia de Joinville, como primeiro homem a escalar o Morro da Trompa, com quase 1000 metros de altitude, em 1854. Essa sua iniciativa objetivava permitir uma melhor visualização da extensão das terras dotais. Elevado ao posto de Diretor da Colônia,em 1858, Léonce Aubé assumia a administração dos trabalhos e deu início à construção de uma das mais valiosas obras da Joinville daqueles dias: A Imperial Estrada da Serra Princesa Dona Francisca.

COMPARTILHE: