Ac. Andreia leu “Resto de vida”, de Eliza Edgar

Andreia Evaristo leu “Resto de vida”, de Eliza Edgar

 

Sou uma entusiasta dos escritores nacionais contemporâneos e, como tal, não posso deixar de trazer aqui a grata surpresa que foi ler Resto de vida – volume 1, da escritora Eliza Edgar.

Lançado em e-book na Amazon, Resto de vida é um livro que fala, antes de qualquer coisa, sobre a condição humana. Manoel, um velho e falido produtor musical, que mora apenas com o filho Fred, vê sua vida mudar com a chegada de Lúcia à sua vida, uma menina de seis anos, abandonada pelos pais e separada de sua irmã mais nova.

Anos mais tarde, depois de Manoel ter lançado um grupo musical do qual Lúcia faz parte, a garota conhece Benjamin, o vocalista de uma boy band, disposto a fazer a carreira de Lúcia deslanchar.

Eliza Edgar tem um modo peculiar de narrar a história. Alguma coisa em seu estilo me remete aos clássicos, mas com uma pitada de vanguardismo que apenas uma escritora contemporânea seria capaz de fazer. A narração não é linear e as idas e voltas no tempo servem para manter o leitor preso às páginas do livro o tempo todo.

O tema central da história é a família mosaico que Manoel vai construindo: primeiro, apenas ele e o filho Fred. Depois, acolhendo Lúcia. Outras pessoas vão se juntando ao núcleo familiar e construindo laços mais fortes que o próprio sangue. Contudo, a família não é o único tema abordado.

A fama cobra seu preço e isso fica muito claro nas cenas que mostram a banda Imperium, já de início, e todas as polêmicas em que Lúcia se vê envolvida. Os erros cometidos pelos personagens os tornam tão humanos e reais que poderiam ser qualquer pessoa que vive ao nosso lado. Abuso sexual de menores, violência doméstica, vícios e traumas estão presentes o tempo todo, costurando essa trama cujas cenas vão ao presente e retornam ao passado a cada sequência.

Essa mistura de cenas agudas e de grande impacto com cenas da vida cotidiana é uma das grandes sacadas da escritora. Não há dúvidas de que Eliza Edgar sabe como emocionar o leitor: seja com uma cena romântica, de reconciliação de um casal, seja com uma cena dolorosa, como a do garoto que se vê diante do abuso iminente. Confesso que não pude conter as lágrimas em alguns trechos. A narração é visceral e isso é sentido pelo leitor.

O livro só tem um defeito: ele terminou, me deixando com aquela sensação de que preciso do volume 2 em minhas mãos o mais rápido possível — e essa será minha próxima leitura, não tenho dúvidas disso.

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