Discurso de apresentação de Antônio Müller (Apolinário Ternes)
Discurso de apresentação de Antônio Müller
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Mais uma vez reunimo-nos neste ambiente nobre e histórico da Harmonia – Lyra, para mais uma sessão de posse de dois novos acadêmicos. Posse de Antonio Müller e Taiza de Moraes, ambos ilustres e dedicados professores do ensino superior.
Permitam-me lembrar um pouco só dos nossos tempos e de nossos cenários. A Academia Joinvilense de Letras foi criada no dia 15 de novembro de 1969, quatro meses depois da chegada do homem à Lua, em julho daquele ano. Os tempos eram esperançosos e profetizava-se que estávamos inaugurando uma nova era para a humanidade. Meio século depois, podemos constatar que a nova era ainda não chegou.
O Brasil, em 15 de novembro de 1969, data de nossa criação, vivia em cenários bem perturbadores. Vivíamos debaixo da ditadura militar e debaixo do Ato Institucional número 5, famigerado instrumento idealizado para silenciar a nação, prender pessoas, censurar a imprensa, perseguir os opositores. Como vemos nos dias atuais, o cenário parece se repetir, ainda que de forma mais sofisticada e nem por isso menos dramática.
O Brasil mudou bastante neste meio século, tornando os valores da cultura, do conhecimento e do respeito pelo humano sempre mais urgentes e impositivos. De novo, o papel dos intelectuais se impõe como imprescindível para a preservação dos valores que sedimentam a nossa civilização. O poeta diria que a luta continua. Continuará sempre, porque esse é, também, o destino do homem. Desde tempos imemoriais, registre-se, essa é a tarefa do homem: crescer culturalmente, evoluir espiritualmente.
Portanto, nada de novo no front, célebre livro do admirável escritor alemão Erich Maria Remarque, depois transformado num filme de grande sucesso. É disso que se faz a vida pessoal e coletiva de todos nós, quando abrimos espaço em nossas mentes e em nosso sempre curto tempo de vida, para as aventuras do espírito, as andanças da alma, a busca permanente de respostas e de compreensão. A cultura serve para isso, para nos humanizar e nos preencher de sentido.
O caríssimo amigo Antonio Müller se encaixa de forma primorosa neste perfil de dedicação aos estudos, em quase quatro décadas de magistério na sempre respeitosa Universidade Católica de Petrópolis. Foi professor de muitas disciplinas, sendo a principal delas a Economia, onde pontifica ainda como autor de consagrado livro didático sobre o tema denominado ‘Manual de Economia Básica’, com reedições e que por anos seguidos seria utilizado por milhares de universitários de todo o país.
Antonio Müller, mesmo tendo feito a vida no Rio de Janeiro, é nascido em Canoinhas, em junho de 1946. Iniciou seus estudos em seminário, formando-se em Filosofia e Teologia e se destinava à vida religiosa, não tivessem ocorridos grandes e insuperáveis divergências com a igreja católica, nos idos de nascimento da Teologia da Libertação, cujos princípios e métodos não podia concordar, o que o afastou da vida religiosa.
Na chamada vida civil, foi importante técnico de poderosas instituições como o Banco de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro. Esteve por algum tempo na Petrobrás e por várias décadas na Universidade Católica de Petrópolis, a cidade imperial em que viveu, talvez, a maior parte de sua vida e onde mantém casa ainda nos dias atuais.
Professor de economia, Antonio Müller manteve sua vida intelectual aberta a múltiplos caminhos. Publicou 13 livros, alguns de Economia, outros de poesia. Outros ainda de sentido filosófico e religioso como ‘Releitura do Gênesis’, onde faz suas exegeses sobre a religião e o catolicismo. Ou, ainda, ‘Tentações de Cristo’ onde revela seus conhecimentos aprofundados de Teologia.
Homem de leituras e reflexões, tendo se aposentado no magistério, voltou às origens. Não em Canoinhas onde nasceu, mas em Joinville. Nestes desencontros da vida, nos encontramos numa imobiliária da cidade e a pessoa que atendia ao professor e sua esposa, dona Isabel, ao notar minha presença no local se apressou em nos apresentar. Foi um início tímido de amizade de dois desconhecidos. Fomos alargando nossas conversas, trocando livros e, principalmente, discutindo fervorosamente os rumos do Brasil. Discussões acaloradas, pois tínhamos e temos, algumas divergências sobre a economia e a política nestes tempos de trágica polarização em que vivemos, e não só o Brasil, mas em boa parte do planeta.
Nestes últimos quatro ou cinco anos, o professor Müller acionou suas baterias e produziu nada menos do que outros 13 livros, dos quais acabei sendo o privilegiado primeiro leitor de muitos deles. Com notável capacidade de trabalho, servindo-se de sua excepcional memória e conhecimento de mais de meio século estudando o Brasil, a produção de nosso ilustre acadêmico tem sido de invejável competência e abrangência. Obras de centenas de páginas, alguma com 300 a 500 páginas, como ‘Formação Política e Econômica do Brasil’, com 512 páginas ou ‘Formação Cultural e Social do Brasil’, com 504 páginas.
Trata-se, portanto, de intelectual com formação sólida e não tenho dúvidas que enobrecerá e enriquecerá a nossa Academia de Letras. A sua posse, portanto, merece nosso aplauso e nossa alegria. O seu convívio aqui em nossas reuniões deverá acrescentar riqueza às nossas conversas, além da experiência de um dedicado mestre com invejável conhecimento sobre teorias econômicas e espiritualidade. Seja muito bem-vindo caríssimo Antônio Müller. É uma honra recebê-lo em nossa ‘casa amiga’, lembrando o dístico de nossa Academia – Domus Amica Domus Óptima.
Desejo ainda saudar a posse nesta Academia da professora Taíza Moraes, ilustre professora da Univille, com uma vida dedicada aos livros e à difusão da leitura. Seja também muito bem-vinda a essa casa de cultura e de amigos.
Obrigado a todos.
Apolinário Ternes
Antônio Müller