E a glória para sempre (Marinaldo)

E A GLÓRIA PARA SEMPRE

Marinaldo de Silva e Silva

Dizem que ouvi as mesmas palavras quando nasci e quando morri: Amém.

Tenho que contar a minha vida em mil e quinhentas letras, depois disso, vida nova!

Li muitos livros, dancei músicas lentas, contei histórias, ouvi mentiras, fingi acreditar, tentei ser elegante, comprei aquário, troquei por um gato, três anos depois um cachorro, até que finalmente adotei uma pessoa para honrar para sempre. Não deu, mas foi intenso. Morri antes da hora, jurava os 82 anos, mas foi como se fossem cem! Amei mais que menti, traí menos que o convencional, rezei antes das refeições e duas vezes, quase morri engasgado. Tive apelidos esquisitos, e assumi todas as minhas condições. Cometi pleonasmo, só me senti exilado duas vezes, e me deportei quando achei necessário. Agora estou aqui. Esse homem que me psicografa eu nunca vi, a letra dele é mais feia que a minha, não lembro de contornar o S desse jeito. A mulher ao lado dele é minha irmã. Ela olha desconfiada para o S, mas sabe que eu voltaria para dizer para ela a verdade, que estou bem, que passei no concurso, que sou grande em 1500 batidas por minuto. Esta é a velocidade da minha alma. Sim, irmã, eu tenho asas. Sim, irmã, cuidado que a luz cega. Sim, irmã, o S torto não é meu. Aqui, nós escrevemos numa linguagem desinventada e raciocinamos de trás pra frente. Ou seja, as asas que nasceram já vinham nascendo antes.

 

 

 

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