Esse time era demais

É inacreditável! Terminou o jogo! O Brasil perdeu! Não pode, isso é impossível! As frases passavam lentas na mente apalermada, todos com cara de enterro. Ninguém se movia nas cadeiras, cada um silente, inerte, olho paralisado na tela. Era como se algo diferente fosse, de repente, acontecer. Quem sabe o juiz descobrisse que se enganou e que ainda faltavam cinco minutos! Seria o bastante para os nossos mágicos. Mas não. Acabou mesmo. O encantamento em forma de futebol desaparecera para sempre.

Exagerado? Trágico demais? Aquele dia na Copa de 82 foi mesmo uma tragédia. O Brasil tinha talvez a melhor seleção que já formara. Eram gênios do futebol e jogavam como se estivessem brincando, como numa alegre pelada na praia. Zico levava jeito de classe média, mas intimidade com a bola de um favelado. Eles se pertenciam. O Doutor Sócrates, alto, magro, desengonçado, surpreendia pelos passes, pelos chutes e pela liderança. Falcão tinha uma classe e elegância de um “Rei de Roma, com reverência europeia! Além dessas divindades, aquele time tinha outros craques excepcionais, como Júnior, Cerezo, Éder e mais. E o comandante, o melhor foi o Mestre Telê, que fez daquele grupo uma orquestra, a mais perfeita.

Eles encantaram o mundo. Se levavam um gol, devolviam quatro! Não toleravam quem desafiasse a perfeição.  Eles dançavam em campo! Deram um passeio na Argentina. Foi um vareio tão grande, que Maradona perdeu a cabeça e foi expulso. Não encontrou a cabeça até hoje.

A Itália não nos preocupava, seria mais uma vítima. Se fizesse um gol, faríamos outro. Mas fizeram mais. Foi inaceitável, um baixinho inexpressivo enfiar três gols na máquina perfeita e acabar com nosso sonho, assim de repente. Mas foi isso que ocorreu. No fim, a frustração, o drama, o inconformismo.

Tivemos seleções maravilhosas, como as de 58 e 62, com Pelé e Garrincha e Didi; a de 70, com Tostão, Gerson, Rivelino e outra vez Pelé; a de 94 com Romário e Bebeto; a de 2002, com os Ronaldos e Rivaldo. Todas estas foram campeãs. Não sei qual foi a melhor. Mas a de 82, que não ganhou, foi a mais encantadora.

Lembramos sempre das muitas e grandes alegrias que a Seleção já nos deu. Quem não gostava quando Zagalo, já velhinho, virava para a câmera e dizia, cheio de razão: Vocês têm que respeitar a amarelinha!

Dizem que futebol é imprevisível, uma “caixinha de surpresas”. Pode ser, mas carecia um limite. As obras de arte deveriam ter sempre garantido um lugar de honra nas paredes dos museus. A “Monalisa de 82” não poderia jamais ser relegada ao porão, cedendo seu lugar a uma aquarela pintada por um tal de Paolo Rossi. Por isso considero aquele dia no Sarrià como o mais dramático do futebol mundial, o mais inesquecível.

O 7×1? Ora, o 7×1 foi uma alucinação! Aquilo não existiu!

 

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