José Carlos Vieira (Marinaldo)

TEXTO-PRESENTE PARA JOSÉ CARLOS VIEIRA

Marinaldo de Silva e Silva

 

“O QUE PODE FAZER UMA CIDADE E SEUS HABITANTES MAIS FELIZES? Com essa pergunta, um menino imaginava o futuro, brincando de fazer viadutos, pontes, canudinhos virando tubulação, e a imaginação fazendo das áreas verdes de seu plano-piloto, o lugar onde ficavam boizinhos, cavalinhos, animaizinhos de plástico.

O QUE PODE FAZER UMA CIDADE E SEUS HABITANTES FELIZES?, foi a pergunta que continuou a martelar a cabeça do menino, que mesmo depois de crescido, menino ainda por dentro, imaginava um título para seu projeto de desenvolvimento! Um título que carregasse muito da poesia com que viveu sua infância, feita de bicicletas, flores, um pai herói que receberia uma medalha, e uma mãe heroína que desfilava pela cidade uma felicidade sustentável, sustentada em epigramas que construíam em prol da vida, e da ramificação. Felicidade Sustentável, que começou com um pai, desses de programas de domingo, merecedor do título de Operário Padrão de Joinville, e uma mãe que de tão boa na arte de professorar, virou até nome de escola, virou nome de livro, cheio de ensinamentos dos mais diferentes filósofos, poetas, escritores.

Como um flaneur, o menino, preocupado com a cidade, passou a observar coisas que de tão naturalizadas passavam despercebidas. A árvore bonita que confluía com a rua, o balcão antigo do casarão que parecia ter visto num filme europeu, a rosa dos ventos em cima de um telhado bonito, numa casa de gente importante. Uma águia prateada diante de uma residência que mostrava uma majestade diferente para aquele lugar. Observador, o guri, sempre presente no homem, virou pessoa pública, e começou a buscar ideais para compor sua cidade. Descobriu que no meio dos adultos nem sempre há espaço para sonhos de menino, mas mesmo assim foi implantando seu jeito. Seu olhar engenhoril foi se munindo de resultados e somas, e isso o fez se tornar importante, homem de grande respeito!

Décadas passadas depois de aprendizados e ensinamentos, foi convidado para ser uma dessas pessoas que ficarão para sempre. Imortalizado, lembrou no seu discurso de posse o Seu Leléu, apelido do seu pai, e de sua mãe, professora normalista que havia feito história, e é tão imortal quanto o filho. Eu estava lá naquele dia! Sim, o narrador, que é sempre onisciente, naquele dia estava materializado. O narrador, olhando aquele semblante bigodudo, reconheceu de imediato. Esse narrador, que passou boa parte de sua infância pegando caranguejos para vender, ficou até emocionado porque estava no meio de gente muito importante! Naquela ocasião, José Carlos fez um discurso bonito. Falou dos filhos, da mulher, sempre elegantes. Ele observava os presentes. Trocou um olhar comigo, sorriu ligeiramente. Ao fim eu fui lhe dar parabéns. Fiquei ouvindo o seu discurso e pensando, confesso: Olha, ele é engenheiro! Será que gosta de poesia? Até entender que a poesia vem antes do texto escrito. Que a poesia está na história de cada um. Que a poesia é que nos sustenta, e que estava presente naquele engenheiro que se debruçava em falar de amor. Sim, os técnicos também amam. Sim, os técnicos também são inexatos. Sim, os técnicos também criam memoriais e mananciais de poesia. Isso só aumentou, essa percepção só aumentou quando comecei a ler as poucas referências sobre José, nome do meu pai inclusive, nome de um dos poemas mais emblemáticos do Brasil: E agora, José. José, e agora? Eu agora, resto desejar que sustentável seja a engenharia que faz de uma vida, uma construção sempre em obras. E que você, engenheiro que é, e nós todos, mantenhamos, sempre, a criancinha dentro de cada nova parede que levantarmos.

 

Ac. José Carlos Vieira

COMPARTILHE: