Memórias de uma velha senhora (Simone Gehrke)

 

Memórias de uma velha senhora

Simone Gehrke

 

Tenho recebido muitos visitantes, nos últimos dias, que me observam com os olhares atentos de quem procura descobrir, aqui e ali, o que foi feito para rejuvenescer esta velha senhora. Me parece que alguns, mais vaidosos (ou seriam invejosos?), chegam a questionar como é possível um aspecto tão jovial para quem coleciona mais de nove décadas de história.

Para os que têm curiosidade de saber se estes fuxicos mexem com meu orgulho, respondo que boa parte do que dizem são apenas bobagens.

Não vou negar que tenha algum valor apresentar uma imagem renovada quando já nem me preocupava mais com ela.

Confesso, no entanto, que meu orgulho, e o que espero daqueles que recebo, é o reconhecimento que vai muito além de minha aparência. De fato, meu propósito, como dizem nos dias de hoje, segue em outra direção.

Sou movida (no sentido figurado, claro) pelas vivências que tive a oportunidade de testemunhar. Por tudo aquilo que gerou um legado para esta comunidade que sempre me acolheu com tanto carinho e afeição.

Começando por tantas famílias cujos cônjuges se enamoraram nos bailes celebrados sob os meus auspícios. Em meu seio brotou o embrião da Cidade da Dança, a primeira edição do Festival de Joinville, em 1983 (agora está no Guiness, não é?). Ainda em minha infância, teve início a exposição de flores que deu origem tanto ao mais tradicional evento do gênero no país quanto a mais uma alcunha desta cidade.

Aprecio quando lembram de mim como uma cria arquitetônica do saudoso Fritz Alt, que tantas obras de arte espalhou por Joinville. Ou pela excelência de acústica que impressiona ainda hoje, mesmo com as muitas possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias.

Acho que estou me deixando levar por aquele pecado capital de quem pensa que está acima de tudo e de todos… Perdoem-me!

Vou ficar por aqui.

Queria apenas registrar o quanto sou agradecida pelas maravilhosas histórias de meu passado. Dizer que ficaria muito contente de recebê-los nas manifestações culturais das mais diversas artes que tenho o privilégio de receber no presente. Ah, e que espero continuar encontrando alguma relevância cultural junto às futuras gerações.

 

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