Se não existe verdade absoluta, vamos devagar! (Fiuza)

Não existe verdade absoluta, já disse há muito Platão. Nietzsche mais tarde confirmou.

O interessante é que a frase  “não existe verdade absoluta” demonstra uma questão lógica insolúvel. Se a frase estiver correta caracteriza uma verdade absoluta e, aí, se contradiz.

Estas pegadinhas que a lógica ensina nos ajudam a entender determinados impasses na vida quotidiana e a descobrir que, muitas vezes o melhor caminho é o que nos livra da angústia e não o que define o que é certo ou errado.

Vamos à vida prática, aos nossos julgamentos. Por exemplo, que tipo de manifestação deve ser permitida em um regime plenamente democrático? Podem ser toleradas passeatas com apologia a golpe de estado? Ora, durante o regime constitucional de Weimar na Alemanha, um austríaco chamado Adolpho começou com demonstrações contra o regime, entusiasmou um povo maltratado pela miséria e deu no que deu.

Da mesma forma podemos estar diante de uma questão da liberdade, como nos julgamentos morais da vida sexual. Até há poucas décadas o sexo fora do casamento era pecado, masturbar era uma depravação e a homossexualidade inaceitável. E agora, como deve ser? Tudo consensual entre quatro paredes é permitido? O que dizer então de filmes pornográficos na TV, do incesto, da pedofilia? Devemos limitar? Fica claro que a liberdade não pode ser ilimitada.

Em um grupo de WhatsApp, que é um aplicativo feito essencialmente para se emitir opinião, estas questões têm pipocado. Em meu grupo de faculdade (temos 50 anos de formados), as piadas mais picantes e as fotos eróticas postadas por alguns dos velhinhos mais ousados feriram a sensibilidade de algumas das meninas da turma. Eles tiveram que criar outro grupo para postar as suas sacanagens, mas permaneceram no grupo original, só que mais comportados. Recentemente ocorreu processo semelhante em relação às postagens politicas. Para evitar brigas, algum limite. E assim a coisa vai fluindo. Continuamos amigos, continuamos falando o que pensamos, rindo uns dos outros, mas com uma pitada de cuidado.

Por estas e outras que respiro fundo diante do desespero do nosso poeta Ferreira Goulart que, depois de tempestuosa discussão viu sua esposa saindo da sala, derrotada. Ele, então sozinho, cunhou a sua triste frase:

“Não quero ter razão. Quero ser feliz.”

 

Ronald Fiuza

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