Jura Arruda
Cadeira 17
Patrono Ignácio Bastos
Fundador Hans Bachl
Jura Arruda nasceu em São Paulo. Radicado em Joinville desde 1984, estreou escrevendo para teatro em 1996, com a peça infantil “Quem roubou minha infância que estava aqui?”, desde então escreveu onze peças, com destaque para “Uma festa para Eulália” (2006) e Nós e um laço (2013). No cinema foi co-roteirista do longa “Infância de Monique”.
Com foco na literatura infantojuvenil, Jura Arruda tem sete livros publicados, com destaques para “Fritz, um sapo nas terras do príncipe” e “Uma árvore que dá o que falar”, além de participações em antologias por editoras de São Paulo e Santa Catarina.
Foi membro do Conselho Municipal de Políticas Culturais de 2015 a 2016, é vice-presidente do Instituto da Cultura e Educação (realizador da Feira do Livro de Joinville), Membro Honorário da Academia de Letras e Artes de São Francisco do Sul e Membro Efetivo da Academia Joinvilense de Letras desde 2015.
Cronista desde 2008, atualmente tem crônicas publicadas na edição de sexta-feira do jornal A Notícia.
É também editor, diretor da Editora Areia, de Joinville.
Café com Raquel (Jura Arruda)
Café com Raquel Jura Arruda Há história em cada pedra. Das que ergueram Roma às que tropeço. Há história em um ato heroico e no café de uma quarta-feira à tarde. A que conto agora, porque não levo jeito para herói, se passou à mesa de um generoso café com pães de queijo […]
Os amigos no seu quintal(Jura)
Os amigos que habitarão seu quintal Jura Arruda Você nunca quis morar na zona Sul da cidade, sequer atravessar o trilho que sai da estação e divide as avenidas Getúlio Vargas e Santa Catarina, mesmo quando necessário. E olha que já morou em nove bairros, em todas as regiões desta urbe. Tenho certeza que […]
Anísia, a astuta (Jura)
Anísia, a astuta Jura Arruda Cozinhar não era a praia de Gregório. Por sorte havia perto de casa um restaurante onde buscava seu almoço quase diariamente. Era comum levar Imortal consigo. O cachorro aguardava, muito comportadamente, do lado de fora, o retorno do dono. Era comum também Anísia sair do balcão para fazer carinho […]
O miserável João Vargeão (Jura)
O miserável João Vargeão Jura Arruda Pilhou dois candelabros de ouro e saiu em disparada. Não foi suficiente a benevolência do padre que lhe oferecera, na noite anterior, refeição e boa cama. Sem remorso, tomou para si as duas peças que lhe renderiam bom lucro. Incauto, foi pego duas quadras depois. O policial, católico […]
Por que Josué se atirou no rio? (Jura)
Por que Josué se atirou no rio? Jura Arruda Nos fundos do Mercado Municipal ha? um rio. Nesse rio costumam boiar sacos de lixo, sapatos e espumas. Hoje quem boia e? o Josué?. Mortinho da Silva. Quem viu primeiro e chamou a poli?cia foi o Tiago, aquele ali com um pano no ombro. Ele […]
A aí da frente (Jura)
A aí da frente Jura Arruda – Agora arrumou um papagaio – resmungou a ma?e para o filho que chegara do trabalho. – Quem, ma?e? – A ai? da frente – referia-se a? vizinha. O filho deu um gole no cafe? e engoliu o comenta?rio. Na?o havia mesmo muito […]
Nada a fazer (Jura)
NADA PARA FAZER Jura Arruda “Nessa cidade não tem nada para fazer”. “Em Joinville, só chove”. “No verão não fica ninguém aqui. Vai todo mundo para a praia”. Não para por aí a quantidade de mitos sobre essa cidade ao norte de Santa Catarina, que tem tanta peculiaridade, quanto problemas, e tanto motivo para ser […]
Gostaria de falar com quem?
Para dar o primeiro passo é preciso desequilibrar-se. E isso causa desconforto. Quando o telefone tocou, Serena desligou a torneira e enxugou as mãos para atender. Era uma manhã cheia de compromissos. O primeiro, deixar a casa minimamente organizada; depois, ir ao banco, ao mercado, fazer almoço, esperar uma entrega e ir ao médico. – […]
? “Uma carta de euforia”, de Jura Arruda
A calçada é meu chão. Brinco com pedras. Distraio a dor. A calçada, senzala que é, impede a gente de querer mais. Faz tempo que vim pra cá. Eu nem lembro mais. Só sei que foi verão porque a noite era quente. Depois choveu dias e dias. Depois foi esfriando e esfriando. Meu coração também. […]
Sobre demônios e borboletas
Do encontro com Isolda, o perfume era a lembrança mais nítida, mas José não sabia descrevê-lo. Aquele perfume, para ele, era como se fosse sentimento, só sabia senti-lo. Sentia que era bom e o levou a tocar com a ponta dos dedos a borboleta tatuada nas costas de Isolda. Um abraço, um beijo leve nuns […]
Móin-Móin na beira do rio
A história que eu vou contar tem magia, tem sonho e tem destino. Aconteceu há muito tempo, quando migravam para o norte de Santa Catarina trabalhadores de todo o país. Em uma terra inabitada, onde hoje é Jaraguá do Sul, uma história repleta de magia aconteceu, ninguém percebeu, afinal, estavam todos preocupados em fazer seus […]
Sessão de saudade
Faltava apenas Bento Queiroz para que a tertúlia estivesse plena ou, como gostava de dizer o presidente Tivergílio, a alcateia inteira presente. Bento Queiroz chegou ornamentado com seu reluzente colar acadêmico a ofuscar as listras em vermelho e laranja da gravata há pouco adquirida. O terno de bom corte dava-lhe a robustez que não […]
Um sapo chamado Fritz
1: Fritz, um sapo nas terras do príncipe Na Alemanha, havia um Frosch, digo, um sapo. Ele foi para o Brasil para ser príncipe. Bem, isso é o que ele achava, mas teve de enfrentar tanta desventura que só vendo. Vire a página e comece a história do Fritz, eine Frosch… Hum-hum, um sapo nas […]
De que vale?
Chega à mesa da professora o convite para um concurso literário. Mais um. A vontade imediata da moça é de fazer uma bolinha de papel e arremessar no ar. A mesma vontade de jogar a profissão e o marido, a segunda-feira e o plano de aula. Ela se contém, é responsável e equilibrada o suficiente […]
Não faz muito tempo
Não faz muito tempo, os dias eram mais longos. Acordávamos e podíamos nos permitir um espreguiçar interminável. Olhávamos pela janela e era o clima lá de fora que determinava os minutos a mais sob os lençóis: se chovia, mais tempo de preguiça e vontade de ficar; se era dia de sol, saltávamos da cama, abríamos […]
E a fila anda
Sete anos depois, Seu Ubirajara achou que era hora de fazer nova consulta. Esperou por duas horas e meia sob o sol e foi uma das 68 pessoas que conseguiram agendar médico para aquela semana. Na fila, ouviu conversas e, ali mesmo, decidiu sua preferência pelo doutor Alexandre. “Ele pede muitos exames”, ouviu de uma […]
De braços cruzados
Estou de braços cruzados. Estou em greve. Estou na posição de defesa contra os devassos que detém o poder. Estou em total desacordo com a situação política, que impediu a primeira mulher eleita para o maior cargo do país de terminar seu mandato, sob alegações escusas e que, após golpear a nação em comprovada politicagem, […]
Cestas e pedais
Marcha pra cima, reta longa em leve declive e a bicicleta ganha velocidade. O vento bate forte no rosto, numa sensação de quase voo. Mais duas quadras e Wagner chegará ao destino. Descerá da bicicleta e entregará um pacote de biscoitos, dois cupcakes e um levíssimo patê. Mais adiante, cerca de cinco quadras, entregará dois […]
Corpo estranho
Era dado a observar abelhas. Por gosto e ofício. Apicultor, aprendera com o pai o trabalho de construir ninhos, instalar telas, fumegar e coletar o mel que era vendido a bom preço na região. A disciplina das abelhas era trunfo de Adamek que, por não precisar pajeá-las, guardava tempo para outra de suas paixões: observar […]
O menino, a flor e o muro
Era de pouco tamanho. Nascera no vão entre o tronco robusto do Ipê e o muro da casa. Era dada à observação, ainda que pouco havia para observar naquele ínfimo latifúndio. Ocorria de, nas manhãs felizes, ver cruzar os galhos do Ipê os raios de sol e um ou outro passarinho. Em dias de chuva, […]
De noite, um dia
Os primeiros raios de sol rompem a escuridão de uma noite infeliz. A madrugada, às vezes, não é boa companheira. Mas há um porvir de esperança na luz que invade a fresta da cortina às 6h52 e que beija-lhe suave as pálpebras. Tanto renascimento o amanhecer é capaz de propor! Não a ela, não nesta […]
Do quanto se pode mudar
– Há dez anos não era assim, não, Schmidt. O sol ia quebrando pros lados do Piraí e a gente já sentia o cheirinho do pão que assava no forno, daí passava um café pra aquecer o peito, fechava a porta pra impedir muriçoca e, quando a noite caía, ligava a televisão ou ouvia rádio, […]
Não cabe o silêncio
Inflama. Palavra solta pega fogo. Vira cinza. Renasce. Arremata, arrebata, inicia e termina. Palavra solta é objeto de agressão e é carinho. É prólogo, epílogo e tudo que há entre. Palavra solta é semente e tiro certo. É risco e conforto. E palavra presa mata. A folha continuava em branco, enquanto a cabeça de William […]
O canto de Mazilda
Era comum Mazilda receber convites para festas. Porque seu jeito espontâneo e seu riso fácil a tornavam pessoa agradável, Porque a afinação de sua voz, aliada ao dedilhado de um amigo no violão, fazia dos encontros momentos de deleite musical. Ia de Dolores Duran a Ângela Maria, cheia de estilo próprio, acrescentando falsetes que, de […]
As deslumbrantes do Tremembé
Eram três as deslumbrantes do Tremembé. Rás, a cantora; Dan, a passista; e Biscuit, a escultora. Ninguém sabe como elas se conheceram, mas quem as viu nas madrugadas daqueles carnavais nunca mais esqueceu. Rás desfilava um vestido preto, exibia tatuagens que cobriam quase todo o seu braço esquerdo, enfeitiçava os homens com sua voz e […]
Andreia Evaristo – Recepção por Jura Arruda
Fanpage, e-book, youtube, twitter, instagram, wattpad, snapchat. A partir de agora, esses não serão mais termos estranhos para a Academia Joinvilense de Letras, porque estamos recebendo uma acadêmica que domina as plataformas digitais como poucos, que fala aos seus leitores com a proximidade de quem é íntimo e conhece suas angústias e desejos; e que […]
Jura Arruda – Recepção por Adauto Vieira
JURA ARRUDA Reservei-me a recepção deste admirável intelectual, que superou todos os requisitos, exigidos por nossa Academia, até por força e um dever de admiração a quem se pode chamar, sem suspeitas, de incansável agitador cultural. Daí porque é inconfundível, quando se lhe menciona o simples prenome: JURA! Quando lhe ouvi, por primeira vez o […]
Jura Arruda – Discurso de posse
É dos olhos que nascem as histórias. É da forma como repousamos o olhar sobre a coisa vista, que a coisa vista se transforma e ganha novos significados. É do olhar amigável que nascem as oportunidades mais sublimes. Agradeço os olhares do presidente desta casa, Carlos Adauto Vieira e de minha querida amiga, Raquel S. […]