Joel Gehlen
Cadeira 23
Patrono Julie-Engell-Günther
Fundador Augusto Sylvio Prodöhl
Nascido em Mamborê (PR)
Jornalista e escritor, com 8 livros publicados.
Editor com mais de 160 títulos lançados.
Empresário do ramo Náutico.
Restauração Cemiterial.
Arte impressa, xilogravura.
Especializações: Jornalista especializado em Cultura em ênfase em Dança, Literatura e Teatro,
Membro do Conselho Municipal de Políticas Culturais,
O cânone Hercúleo (Joel Gehlen)
O cânone Hercúleo Joel Gehlen Herculano nunca foi culto, sempre preferiu ser cultor, aquele que lavora seu jardim sem se emaranhar nas teias dos preitos adjudicantes. O homem culto se parece cada vez mais com um silo abarrotado de grãos. Uma potencialidade separada do mundo por uma camada expeça de arrogância, cinismo e […]
Escolhos da noite anterior (Joel Gehlen)
Escolhos da noite anterior Crônica Joel Gehlen, A Notícia 14 de dezembro 2017 Um abraço não foi feito para ser atravessado. Ímpeto e fúria se aplacam entre pares de braços e peitos que se estreitam sem mesura. E quando se desenlaçam, ainda há de sobrar tempo para o resto de dezembro, nessa procura […]
Diários do frio (Joel Gehlen)
Diários do frio Crônica quinteira, Joel Gehlen, AN, 16/06/16 Na maior parte do tempo, tem apenas as estrelas para conversar. Claro que sempre trata de se entender em voz alta com seus instrumentos de medir o tempo, o que pode considerar um diálogo interior completo, mas com as estrelas prefere prosear a olho […]
Receita de canha com o Jerê (Joel Gehlen)
Receita de canha com o Jerê Crônica Joel Gehlen, AN, 9 de fevereiro de 2017 O Jerê foi um repórter que influenciou sucessivas gerações de jornalistas lá em Londrina e toda uma rapaziada aqui em Santa Catarina. Tinha um modo desconcertante de ver o mundo. Vim com ele para Joinville e muito dessa […]
Poeira de Mamborê ( Joel )
Poeira de Mamborê Joel Gehlen, crônica de quinta, AN 24/09 Por esses dias, amornaram-se umas nostalgias nos cavos mais fundas das minhas veias. Talvez tenha sido efeito das amoras subitamente adocicadas pelos sabiás-peito-de-fole, que tecem o anoitecer com o fio lúgubre que desenreda da sua garganta. A mão que colhe o pequeno roxo […]
A ti, que me lês (Joel Gehlen)
A ti, que me lês Ainda não é a crônica, e sim essa torrente de imagens desconexas que doem como a surra do mar salgado sobre o rochedo indócil. É a mesma dor de quando duas mãos desconhecidas se achegam de mansinho e se interpenetram os dedos que ainda não sabem, mas, quiçá, se […]
O amor nem sempre é primavera (Joel)
O AMOR NEM SEMPRE É PRIMAVERA Crônica Joel Gehlen, 4 de outubro 2018 Há um mecanismo que faz gritar dentro da gente o silêncio dos ipês em flor. Atentos a esse clamor de pétalas, saímos os dois dentro da tarde de domingo, pelas ruas de Joinville, para dar de beber às árvores de galhos em […]
À borda da primavera (Joel)
À BORDA DA PRIMAVERA Crônica de quinta, Joel Gehlen, A Notícia 20 de setembro 2018 E o tempo do recolhimento se retira, depois de amanhã já é primavera. Desde anteontem, brotam e exalam para o universo os gravetos dos ipês que estiveram retraídos na estação do frio. Um tubérculo seboso explode em rútilas tulipas. […]
Alqueives de agosto (Joel Gehlen)
Alqueives de agosto Crônica Joel Gehlen, A Notícia, 3 de agosto de 2017 Em agosto, os trigais espigados começam a morrer. Foi mais ou menos nessa época que conheci o trigo. Era o inverno de 1972. Nosso pai chegou da cidade com o dia pelo fim. Trouxe consigo o indefectível farnel com que […]
Joel Gehlen (Marinaldo)
TEXTO-PRESENTE PARA JOEL GEHLEN Marinaldo de Silva e Silva Não teria como escrever para você sem ser autobiográfico. Não teria como me dirigir a você se não fosse agradecendo. E não teria como lembrar de você, sem lembrar da primeira vez. Lembro o ano, 2001. Não sei o mês e dia exatos, mas lembro […]
Ac. Joel leu “Luz Antiga”, de John Banville
Luz antiga Crônica de JOEL GEHLEN, AN/26/02/2015 Muitos anos se passaram desde a última leitura de um romance tão impressionante. Luz Antiga entrou para meus olhos numa tarde de sábado, com sol de final de outono, de um modo pouco entusiasmado. Porém, definitivo. Pareceu-me que o autor respondia a todas aquelas perguntas com enfado e […]
Reencontro no verão (Joel)
Reencontro no verão Para quem vem do leste, a cidade atravessa a barra da emoção logo depois de Tamarana. Vencida uma sucessão de elevações que ficam para trás como ondas, e após uma longa curva à esquerda, surge a imagem amada à boca da noite. Feito a coluna mais avante de uma grande armada, as […]
Mexa-se, o Sol está parado! (Joel)
Mexa-se, o Sol está parado! Joel Gehlen, crônica A Notícia, 21 12 17 Hoje é o dia mais longo do ano. Teremos tempo para mudar? Ontem morreu o último dia da primavera e não houve um dobre sequer de lamento. Ah, moribunda estação, tanto canto se ouve à sua entrada – poemas, flores, alegrias, renascimento […]
As rosas de novembro (Joel)
As rosas de novembro estão a bem dizer mesmo esse tempo sujo que nos acomete. Pequenos espaços de chão tomados às calçadas, os últimos aclives na culminância do outeiro onde ocupam o lugar das urtigas, roseiras cultivadas ou touceiras selvagens, em pequenos aglomerados de estrelas vegetais, as rosas desabotoam sua carnação em forma de seis […]
A terceira barata (Joel)
A terceira barata Crônica de quinta, Joel Gehlen, AN, 08/10 A primeira barata de primavera chegou, esgrimiu destemida suas antenas para se assenhorar do ambiente e veio na minha direção em marcha batida. O impacto imediato é repulsa! Fustiga-me o dever atávico de eliminá-la, como se fora ela, e não a serpente, a tentar Eva […]
Uma chávena de chá para setembro (Joel)
Uma chávena de chá para setembro (para Fernando Fernando José Karl, José Maschio e Roberto Maruyama) A cerimônia do chá é das coisas que tenho aprendido com mestres. E ler se parece com essa arte. Das leituras, a mais plena e inintencional, na qual se pode repartir o silêncio sem diminuí-lo, ao sentir o perfume […]
Tempo de mudança (Joel)
Tempo de mudança A perfeição é breve. Levarei de agosto a imagem derradeira dos sabiás una, um dos esplendores de nossa farta natureza. Jamais os vira tão próximos, diariamente com seu azul retinto quase negro, como pequenos recortes voadores daquela cor derradeira que se forma no encontro entre o céu e o mar recém anoitecidos […]
As mãos na manhã de Fernando (Joel)
As mãos na manhã de Fernando O coração de Fernando José Karl não esperou a primavera chegar. O poeta respirou pela última vez às 6 horas e 30 minutos na manhã do dia 16 de agosto, em Curitiba. Não existe mais aquela voz doce e caroável, o homem imenso habitado por uma criança precoce, que […]
A lua de ontem (Joel)
A lua de ontem Acho que foi a lua de ontem. Mas também pode ser que sejam as notícias. Deus do céu, elas não param de chegar! Revoam em bandos que, em vez de se aquietarem no sem-fim dos ecos, se espalham por auto disseminação, e viralizam numa pandemia trágica. A lua é assaz. Marmórea. […]
Muito estranho (Joel)
Muito estranho Em 1982 já estava em Londrina, mas ainda era um garoto assustado que carregava a terra de Mamborê por debaixo das unhas e os pés dentro de congas desbotadas. Terminava a aula no colégio um quarto para as 23 horas, o portão do pátio interno despejava na rua uma turba de jovens sonolentos […]
📓Outeiro das vértebras incandescentes (Joel)
Outeiro das vértebras incandescentes Crônica de quinta, Joel Gehlen Entre a colina e o mar, o outeiro das vértebras incandescentes impõe sua corcova de crespa luminescência. Joinville tem ruas desastrosamente assimétricas, alguns cantos do mapa da cidade mais parecem a cabeça da Medusa, com suas linhas serpenteantes e abruptas. É sempre incauto percorrê-las, mesmo quando te […]
Um canivete da roça (Joel)
Um canivete da roça Seu Ataíde era paparicado por três gerações de mulheres: a esposa, a filha e a sogra. Talvez por isso gostasse tanto de contar. Morava conosco no sítio, lá nas barras do Mamborê, numa casa que ele mesmo construiu. Criávamos porcos em um chiqueiro que, visto de longe, mais parecia uma pousada […]
Diário de um encontro (Joel)
Diário de um encontro Precisava da solidão de quem anda a pé, esse estar só entre as gentes como a saber que na vida ninguém passa de hóspede. Desci o morro com o pesado fardo do almoço e, nas costas, uma mochila com tudo dentro. Fui até a Biblioteca Municipal levar a encomenda para o […]
O menino (Joel)
O menino O menino morto está de olhos abertos. Em decúbito ventral, o menino morto mantém a visão periférica do olho esquerdo e vê na mirada do fotógrafo a reação da humanidade sobre si. Está o mínimo morto, o menino, veja que a qualquer momento pode tanto elevar um braço quanto organizar os pés de […]
As embaúbas morrem em pé (Joel)
As embaúbas morrem em pé Joel Gehlen, AN, 8/01/2015 A madrugada de 6 de janeiro é quente e sem estrelas. O mormaço da floresta estende um tênue véu sobre a rua. Grilos raspam vidro moído na borda imaterial da noite, numa romaria de cochichos que acentua o semblante como uma […]
📚 “A maior escritora judia desde Kafka” (Joel)
Singela homenagem à maior escritora judia desde Franz Kafka UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES Joel Gehlen No final do livro anotei a data em que o terminei: 7,7,13. Fiquei na dúvida quanto ao local, hesitei um longo espaço em branco sobre o papel e, com a ponta gasta e grossa do lápis, depus […]
Melancolia (Joel)
Melancolia Joel Gehlen, AN, crônica de quinta, 26/11. As nuvens estavam lá. Porções brancas cercadas de céu azul por todos os lados. A relva é vereda, e a Terra inteira, uma estrada para chegar. Era dar o primeiro passo e ir. Todos os caminhos do mundo abertos a sua vontade. Mas tinha predileção por ficar […]
O tempo (Joel)
O tempo Joel Gehlen, crônica quintaferina, 29/10/2015 A guerra tinha acabado, mas alemães e japoneses – também seus descendentes – continuam sendo perseguidos. Por isso, o menino que se punha pingente no lado de fora do bonde para não ter de pagar a tarifa atendia por Pedrinho. Mas seu documento, e isso é um segredo […]
Pavana para um setembro defunto (Joel)
Pavana para um setembro defunto Joel Gehlen A mulher parou no susto, deixando o carro enviesado na direção contrária. A menina estica o pescoço em viva curiosidade no vidro de trás. Arcado, passos arrastados, muito lentamente o gambá atravessa a pista. Parece que sofreu um atropelamento. A perna esquerda se arrasta. Estacionei e fui pegá-lo. […]
Setembro breve (Joel)
Setembro breve Crônica, Joel Gehlen, AN 08/09 Agosto anda pela praia, os pés descalços, ninguém à vista. Quem há de registrar a exuberância dessa solidão? O mar beija e surra um corpo estelar em estado de rochedo. Os olhos transparecidos do vento se descaminham em seus contornos e tiram lascas de assovios que se desprendem […]
Melancolia (Joel)
Melancolia As nuvens estavam lá. Porções brancas cercadas de céu azul por todos os lados. A relva é vereda, e a Terra inteira, uma estrada para chegar. Era dar o primeiro passo e ir. Todos os caminhos do mundo abertos a sua vontade. Mas tinha predileção por ficar ali, de costas sobre a macega, sentindo […]
Outeiro das vértebras incandescentes (Joel)
Outeiro das vértebras incandescentes crônica de quinta, Joel Gehlen Entre a colina e o mar, o outeiro das vértebras incandescentes impõe sua corcova de crespa luminescência. Joinville tem ruas desastrosamente assimétricas, alguns cantos do mapa da cidade mais parecem a cabeça da Medusa, com suas linhas serpenteantes e abruptas. É sempre incauto percorrê-las, mesmo quando […]
Quando a chuva chegar (Joel)
Quando a chuva chegar Joel Gehlen Ficou na janela a esperar pela chuva. O dia foi quente. Não desse calor abafado e úmido tão característico de Joinville, mas uma ardência ensolarada, com brisa morna, inconstante e biruta. Aquela ofuscante claridade a indispôs para o trabalho. Escolheu ficar nos cômodos mais […]
Notícias de bichos mínimos do chão (Joel)
Notícias de bichos mínimos do chão Joel Gehlen Tenho convivido com ratos, pequenos camundongos do mato. E sem muitos conflitos. Há um esforço de lado a lado por uma existência suportável. Aqui no tugúrio arribado na franja da floresta, é de esperar que eles apareçam. Conviveríamos com certa harmonia, fossem só suas aparições-relâmpago, sumindo logo […]
Sofrimento e compaixão (Joel)
Sofrimento e compaixão Joel Gehlen, crônicas Maha Dharma, 7 de maio de 2020 Nunca fez tanto sentido o amanhecer. Nunca o amanhecer da Lua Cheia de Maio fez tanto sentido quanto hoje. Talvez, não haja algo tão bem distribuído no mundo nesse momento do que o sofrimento. Há um clamor que grassa pela terra. Esta […]
A arte de viver (Joel)
A arte de viver Joel Gehlen, em Crônicas de Maha Dharma, 30 de abril de 2020 Último dia de abril, o mês quatro, elemento terra, e essa lua, essa lua, essa lua em desavergonhado flerte no céu de Afrodite. A derradeira flor de Urano, nascida do sêmen castrado, flutua sobre espumas do mar. Adeus, à […]
O prazer de ler (Joel)
O prazer de ler Joel Gehlen, Crônicas de Maha Dharma, 23 de abril de 2020 Abra um livro e dê uma lida. Abra um livro hoje, pelo que vai dentro e pra fugir cá de fora. Ainda que sem tempo, na lida do agora, leia em pé feito fosse desforra. Na hora da fome, dentro […]
O fim da espera (Joel)
O fim da espera Joel Gehlen, Crônica de Mahha Dharma, 9 de abril de 2020 O primeiro frio do ano do vírus está lá fora, chegou com seu restelo de jardineiro, para ajuntar folhas e almas. Não se avista mais flores no pequeno vale. Mesmo assim, minúsculas florações selvagens contrariam abril e soltam seus gametas, […]
Meditações de abril (Joel)
Meditações de abril Joel Gehlen, crônicas de Maha Dharma, 1/04/2020 A última noite de março se dissolve. O céu está completamente limpo, vai ganhando uma palidez que esmaece o contato com as estrelas. A solidão fica maior, ganha o arcabouço da abóbada. A penumbra não quer amanhecer nos braços de abril. Correm-me odes pelas vias […]
Não apresse a primavera (Joel)
Não apresse a primavera Joel Gehlen, crônicas de Maha Dharma, 26 de março de 2020 A primavera vai ter de esperar. Depois que se abrirem as portas e pudermos andar pelas vias, praças e passeios, ainda será o outono. E teremos a embocadura do inverno no horizonte sextante. Mais do que nunca, estará valendo o […]
O pontapé do ponto de mutação (Joel)
Crônicas de Maha Dharma O pontapé do ponto de mutação Joel Gehlen Algo muito raro acontece. Você pode não acreditar, mas uma fluência que durou muito tempo está acabando. A mudança vem de longe e agora chegou. Como a água saída do fundo da Fossa das Marianas, ela se ergue numa onda de maré cheia, […]
Matriz Perdida (Joel)
Matriz perdida Crônica/ JOEL GEHLEN, – Quando morrer, quero um ataúde grande, em madeira resistente e macia, ao natural, para os amigos ficarem em volta, gravando durante o meu velório. Estávamos todos em torno da grande mesa, depois da última aula, e o seu dizer atravessou-me o tino. Ele tinha as mãos levemente entintadas e […]
Carta para Kenzo (Joel)
Carta para Kenzo Quinta sincrônica, Joel Gehlen Querido filho, nunca recebi uma carta como esta, mas sei o quanto é acalentador repousar os olhos sobre essa tinta. Também não escrevi a meus pais ou para a Larissa, e me arrependo. De algum modo, ao escrever para ti, busco me redimir dessa falta. Uma dívida que […]
Cartola, o divino (Joel)
Cartola, o Divino Já disse muitas vezes do esforço da escrita. Seria uma blasfêmia falar em desânimo, uma vez que escrever é esticar a alma do avesso. Também já contei uma porção de vezes sobre a dimensão confessional dessas crônicas, condição que se estende também a poemas e à ficção literária. Daquilo que se cria, […]
Um galo grifa o canto (Joel)
Um galo grifa o canto Quinta Sincrônica, Joel Gehlen, 23.01.2020 Um galo cantando longe é mais triste do que perto. Um galo cantando longe grifa o canto. Está fora do terreiro, é quase outro planeta, uma nota de melancolia dentro da garganta que faz haver outra órbita e repousa como ondas nas areias do deserto. […]
Oroboro (Joel)
Oroboro Crônica, Joel Gehlen, 16 de janeiro 2020 Foi o tempo. Com suavidade, mas não sem o dramático engano de que está passando. A bouganville subiu pelos telhados e alcançou as nuvens. Cumuloninbus de intensa fúcsia cor, com verdes pastelados num esbanjo contra o despropósito azul. O mês de Jano nos olha com sua dupla […]
Leia a Lua, o Cosmos e o amor (Joel)
Ia começar com a despedida, três dias para o fim da primavera, solstício de verão, ano que finda, o aceno das pétalas que se derramam da bougainvillea. Há ciclos pequenos e grandes, dando início e findando a cada instante, assim, comemorar ou despedir é apenas um vício que nos anima. Aqui no meu tugúrio há […]
Liberto que será também (Joel)
Liberto que serás também Crônica de quinta, Joel Gehlen, 5 de novembro 2019 Wilson Gelbcke não levou o vasto sorriso para a eternidade. Partiu sem portar esse que foi o passaporte da sua vida, a cada chegada e também nas despedidas. O sorriso foi sempre sua etiqueta. Mesmo nas contrariedades, lá estava ancorado, aquele […]
Visões de Blake (Joel)
Desejo que o seu dia seja cheio de altos e baixos, como os rios de montanha que se energizam nas quedas e se quedam nos vales em códigos óxidos feitos para o ócio dos peixes. Não sei quanto tempo da sua vida você conseguiu investir em observar as corredeiras dos pequenos cursos d’água. O que digo […]
Uma taça nos alcança (Joel)
Uma taça nos alcança Crônica, Joel Gehlen, 21 de Novembro de 2019 Foi no dia de hoje, uma terceira quinta-feira do mês de novembro, há 2.418 anos, que Sócrates tomou a sua taça de cicuta. Não leve ao pé da letra, o suicídio nem a sua frase mais conhecida, “só sei que nada sei”. Não […]
Crônica indigitada (Joel)
Coloquei para diluir em soda cáustica os meus ossos. Não quero nada enrijecido em minha vida. Tudo flui no Universo, até os cristais mais empedernidos, então não posso me querer monturo individuado com paliçadas e cancelas a guardar minha separatividade. Dói diluir as arestas. Estava quase por me propagar o heroico por esse gesto e […]
Hoje não tem crônica (Joel)
Caro leitor, Escrevo para dar uma grave notícia: hoje não tem crônica. “A Notícia” morreu. O jornal faria 100 anos daqui a três fevereiros, mas desde o último domingo, deixou de existir. A Notícia sempre morre nas mãos dos domingos. Não foi morte natural, mas obra de domingos. Assassinada por inanição. No roteiro macabro, primeiro […]
A noite mais longa
Tenho à frente a noite mais longa e fria, e me aplico em desalojar a criança dentro de mim. Bem nutrida e confortavelmente protegida nos meus abrigos subterrâneos, ela quer ficar para sempre nesse conforto que é o alheamento da individualidade. Estou a desabrigá-la diante da noite profunda. Lanço chamas, gás lacrimogêneo e bombas de […]
Mil e uma crônicas
Crônica Joel Gehlen, em A Notícia, 27 de junho 2019 “Não tens outra missão na vida senão realizar a sua divindade interna e atingir a iluminação.” Assentei a frase sobre a tela branca do computador e relutei por mais de uma hora, evitando compor este texto. Faço essa escrita hebdomadária para o jornal há mais […]
Textos escolhidos da AJL: “Alqueives de agosto”, de Joel Gehlen
Em agosto, os trigais espigados começam a morrer. Foi mais ou menos nessa época que conheci o trigo. Era o inverno de 1972. Nosso pai chegou da cidade com o dia pelo fim. Trouxe consigo o indefectível farnel com que se voltava daquelas breves idas ao mundo. Mas aquele não era um saco qualquer, desses […]
É a passagem que se continua
Uma crônica no jornal é como ter um encontro. Este pequeno hebdomadário deveria funcionar como a tréplica em um diálogo entre cronista e leitor, iniciado após atenta observação dos assuntos mais candentes, com intercalações de parte a parte. Não tem sido assim. Minhas motivações estão em camadas submersas. O tempo é uma máquina de moer. […]
Dizem as rosas
As rosas de novembro estão a bem dizer mesmo esse tempo sujo que nos acomete. Pequenos espaços de chão tomados às calçadas, os últimos aclives na culminância do outeiro onde ocupam o lugar das urtigas, roseiras cultivadas ou touceiras selvagens, em pequenos aglomerados de estrelas vegetais, as rosas desabotoam sua carnação em forma de seis […]
Ramos dos Anjos: benzeduras à lua
Sem outra novidade, disponho de recorrente anunciação: amanhã é lua cheia! Uma “lua tão redondamente grávida”, como escreveu a poeta Mila Ramos dos Anjos, que na última terça, atendendo ao pendor secreto, deixou de estar entre ramos para tornar-se inteiramente Anjos. Conheci-a numa daquelas sinucas que o jornalismo às vezes nos coloca. Dona Zelândia – […]
Alessandro Machado – recepção por Joel Gehlen
Alessandro Machado é Major da PM/SC e piloto do Grupamento de Radiopatrulhamento Aéreo – GRAER com milhares de horas de voo. É autor dos livros “Operação Santa Catarina. Ações da 2ª Companhia do Batalhão de Aviação Catarinense na Tragédia do Morro do Baú” (2010), “Águia Urbana – Aviação Multimissão em Ação e Imagens” (2013), e […]
Joel Gehlen – Discurso de posse
24Vindo lá das barrancas do Lageado, dos grotões do Mamborê, empenho minha gratidão pela fortuna de ter mais essa oportunidade na vida para tornar-me menos tolo, menos ignorante e menos presunçoso. Sobre o fundador e primeiro ocupante da cadeira nº 23 Augusto Sylvio Prodöhl Nascido a 17 de março de 1917, Augusto Sylvio foi professor, […]
Joel Gehlen – apresentação da candidatura
Bem sei que não fiz obra que resista a um pé de vento e o pouco talento me cobra que me digne ao merecimento. Não faço verso nem prosa só peco por pensamento. É longe de onde venho e essa palavra robusta, é quase tudo que tenho. Em tantos anos de busca o peso […]